Um
dia uma amiga perguntou: se você é uma escritora, por que você conta histórias
para as crianças? Não é melhor deixá-las lerem sozinhas? A resposta é um pouco
complexa. Quando você conta uma história para uma criança você se conecta com
ela, a criança vive em um mundo onde a fantasia e o real estão muito próximos,
e assim há uma conexão imediata. O afeto que se passa no ato da leitura não se
compara com a leitura para si mesmo, são atos distintos e igualmente
importantes. Com a urgência do mundo atual, a leitura tem se perdido e com ela
muitos conhecimentos e laços afetivos também. Quando se lê para alguém há troca
entre três meios: o leitor, o livro e o ouvinte. Há troca de olhares, há troca
de assuntos que extrapolam a leitura, há um feedback de quem está ouvindo e as
perguntas que a leitura traz são respondidas, são discutidas; e a cada leitura
do mesmo livro há mais assuntos novos para debater, para conectar pessoas para
resgatar nossa humanidade. A leitura para si mesmo é importante, pois
proporciona uma reflexão, algo que podemos compreender internamente, algo íntimo e, com isso, os diálogos intrapessoais são
estabelecidos: fonte primordial para o processo de amadurecimento do indivíduo,
pois desenvolve a empatia, senso crítico e quebra da inocência. A ilusão
provocada na trama de um bom romance e a quebra desta ilusão propiciada em seu
término; suas facetas de realidade e representações da vida humana... os gregos chamavam de “mimesis”,
mas não vou entrar nesta longa teoria... O fato é que ler demora e na urgência deste
mundo vamos perdendo este hábito e nos perdendo como indivíduos também, ficamos soltos sem compreender o que nos cerca e a nós mesmos. Não paramos para pensar sobre os fatos ao redor e tudo que lemos torna-se uma verdade inquestionável. Penso que valorização da leitura individual começa na infância, ouvindo histórias e é o que eu faço: um incentivo ao hábito de ler, um resgate de laços humanos, de afeto, uma troca de experiências... isso é apenas uma gotinha no oceano: mas é a minha gotinha. E a
cada contação de histórias, uma história nova é criada, pois a história é feita
de pessoas e as pessoas são feitas de histórias.
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