Hoje eu estava na Universidade e em
um dos questionamentos e incertezas que propositalmente "tiram o chão" dos alunos de pós-graduação, para deixá-los mais questionadores e malucos sobre literatura, e
sobre o curso foi: os livros devem ou não ter a moral da história explícita? Depois
de um consenso em sala de que uma obra literária de “calibre” deve deixar o
leitor entender a moral por si, procurei nos livros que eu escrevi e, para a
minha surpresa, uma das obras que eu mais gosto de trabalhar tinha sim a moral da
história explícita. Seu enredo era sobre amizade e no seu final estava escrito:
“Cada um é único e especial a sua maneira e quando temos amigos podemos
aprender muito com eles”. Dois minutos de silêncio para a morte acadêmica de minha
obra recém-lançada. Mas aí, quando estava retornando á casa já achando que tudo
que eu havia escrito talvez nem fosse literatura e meu esforço para apresentar
textos que acrescentassem algo na vida das pessoas fosse mera soberba, lembrei-me
de uma contação de histórias que fiz deste mesmo livro. Era para crianças que estavam
acostumadas a ouvir: “por quê você não é igual a fulano? beltrano é que é bom! ciclano,
ah, esse sim é um excelente aluno!...” aquelas que nunca haviam sido
valorizadas por suas qualidades e por serem diferentes e especiais por isso. E lembrei-me
do rosto de desprezo destas crianças que chegaram impacientes para ouvir aquela moça, a
Escritora, falar e contar uma história fantástica sem ter muito "a ver" com a
realidade deles, rosto de espanto, quando foram chamados para o palco para ajudar a contar a história, para serem únicos e especiais e aprenderem uns com os outros. Rosto de surpresa, quando descobriram que sim, era possível e fantástica a realidade de
dar-se conta de suas qualidades. Rosto de alegria, o meu, de ver todos aqueles meninos e meninas batendo palmas e saindo de nossa experiência confiantes e sorrindo. Respirei
fundo. Havia sim descoberto a não tão explícita moral história.